CASTELO
A fortaleza medieval de Melgaço foi o principal ponto estratégico militar do Alto Minho no século XII. Ao contrário dos castelos roqueiros que ordenavam este território até ao início da nacionalidade, e diferente das posteriores póvoas ribeirinhas fortificadas de Caminha, Valença ou Monção, Melgaço foi concebido como uma estrutura capaz de proteger a primitiva povoação aqui existente e, mais importante, capaz de simbolizar a autoridade do nascente reino de Portugal face ao seu hostil vizinho galego, em terras acerrimamente disputadas por ambos os poderes. O foral de D. Afonso Henriques, de 1183, é o único que o nosso primeiro monarca passou a uma terra do Alto Minho e tem sido considerado justamente como um dos mais importantes instrumentos jurídicos no progressivo exercício do poder régio em matérias de "gestão local".
Dotado de foral, o aglomerado proto-urbano rapidamente se fortificou. Estamos muito mal informados acerca da marcha das obras, mas sabemos que um primeiro castelo estaria concluído pelos anos iniciais do século XIII, datando de 1205 ou 1212 a mais antiga referência concreta. Nessa primeira obra militar, o concelho contou com o apoio da coroa, mas também com o de algumas poderosas instituições locais, como os Mosteiros de Longos Vales e de Fiães, comunidades a quem se ficou a dever a construção da torre do castelo (ainda em finais do século XII) e de parte da muralha.
A configuração geral da fortaleza confirma esta campanha românica, apesar das muitas transformações posteriores. Uma torre quadrangular, isolada no centro de um pátio rodeado de muralhas, é a característica mais marcante desse tempo, embora quer essa mesma torre, quer a cintura do muro tenham sido quase integralmente reconstruídas. Carlos Alberto Ferreira de Almeida, confrontado com a inexistência de testemunhos materiais coevos do reinado de D. Sancho I, sugeriu que aquele primeiro castelo não passasse de uma construção rudimentar, "de aspecto bastante elementar" e recorrendo sistematicamente a um "aparelho irregular", características que certamente determinaram a posterior reforma integral do conjunto.
Com efeito, a partir de meados do século XIII, e aproveitando a pacificação do reino após a guerra civil, o castelo de Melgaço foi objecto de uma grande campanha de obras que lhe conferiu o essencial do aspecto actual. À frente deste processo esteve o próprio D. Afonso III, que contou, uma vez mais, com o apoio do mosteiro de Fiães e com o do alcaide. Esta reforma não se limitou a actualizar o castelo em relação aos grandes avanços da arte da guerra; ela pretendeu, também, aumentar o espaço defendido, através da construção de uma cerca urbana ligada ao castelo. Em 1263, o troço ocidental do novo reduto deveria estar concluído, pois é desse ano uma epígrafe que identifica o promotor principal das obras, o alcaide Martinho Gonçalves, e o seu arquitecto, Mestre Fernando, um dos raros nomes ligados à nossa arquitectura militar medieval.
No geral, a reforma gótica do castelo manteve a estrutura românica de pátio interior com torre de menagem isolada. Esta, é de aspecto maciço, de três pisos, e resumindo-se os únicos elementos de iluminação a umas apertadas frestas. O coroamento é um remate em balcão com ameias, actualmente transformado em miradouro do pólo museológico aqui estabelecido. A muralha é defendida por três torres, sendo a principal, a que se vira para o núcleo urbano, de secção pentagonal, simbolizando, pela sua imponência, a reforma gótica da fortaleza.
Sem grandes alterações ao longo dos séculos, à excepção de uma barbacã diante da porta principal (datável dos finais da Idade Média), o castelo de Melgaço foi parcialmente restaurado na década de 60 do século XX, numa campanha que não desvirtuou excessivamente a estrutura daquela que é considerada, ainda hoje, a "sentinela do Portugal medieval".
MURALHA
O perímetro amuralhado que envolve o núcleo urbano mais antigo de Melgaço, e que se ligava ao castelo através de duas torres quadrangulares, é uma obra do século XIII, construída na mesma altura em que o velho castelo românico da vila foi objecto de uma reforma quase integral. A primeira referência a esta cerca data de 1245, ano em que as autoridades (o alcaide, muito provavelmente com o apoio de D. Afonso III e dos principais mosteiros da região) decidiram cercar a vila com uma muralha de "pedras quadradas".
Os trabalhos ter-se-ão desenrolado com relativa rapidez, uma vez que, menos de vinte anos depois, em 1263, uma epígrafe assinala, muito provavelmente, a conclusão da empreitada. Localizada no troço ocidental da fortaleza, junto da porta principal (a que ligava o conjunto ao rio e às estradas para as principais povoações do Noroeste), ela indica que, no tempo de D. Afonso III, o mestre Fernando construiu o muro e que o alcaide do castelo, Martinho Gonçalves, custeou parte das obras. Esta informação é uma das mais importantes que o castelo de Melgaço nos deixou, na medida em que perpetuou o nome de um dos poucos arquitectos da nossa história militar medieval, cuja obra foi de tal forma relevante que o seu autor figurou ao lado do alcaide que a custeou.
De um ponto de vista planimétrico, a muralha duocentista de Melgaço não difere dos esquemas urbanísticos das vilas fortificadas góticas nacionais, apesar de grande parte ter sido já desmantelada, em consequência das obras públicas e privadas que se sucederam neste espaço. Uma planta arredondada, a caminhar para a forma oval, define o reduto, cuja linearidade era interrompida por torres e por portas, em número infelizmente desconhecido. Em 1506, Duarte d'Armas desenhou a fortaleza com três torres e duas portas, mas poderá não ter sido essa a solução original. Ainda se conserva a porta que ligava o castelo ao núcleo urbano, uma estrutura de vão único de perfil quebrado, aparentemente sem torres a ladeá-la, que era protegida por um segundo registo com balcão (de tipo matacães), em posição vertical sobre o portal.
A "raridade de cubelos e a exiguidade dos balcões, apoiados em mísulas, denotam-nos ainda uma relativa elementaridade" do sistema, edificado num momento de transição da nossa arte da guerra, entre as concepções românicas já desajustadas à realidade e a constituição de um novo modelo funcional, determinado por conceitos de defesa activa, que esteve na base do aparecimento do castelo gótico.
O urbanismo intra-muralhas, pelo contrário, pode já considerar-se característico da racionalidade tardo-medieval. Ele era organizado a partir de um eixo viário fundamental - a Rua Direita - que colocava em comunicação directa as duas mais importantes portas da vila: a oriental, junto da qual se localizava a igreja Matriz, e a ocidental, voltada ao rio e principal entrada e saída do conjunto. Paralelas a esta, duas outras ruas estabeleciam uma rede ortogonal com uma série de travessas e de ruas menores que cortavam perpendicularmente a Rua Direita e formavam terrenos rectangulares para construção de habitações.
Na Baixa Idade Média, Melgaço foi dotada de uma barbacã, que nos inícios do século XVI estava já muito destruída, mas de que se conservam ainda vestígios diante da porta principal. Parcialmente restaurado na década de 60 do século XX, numa campanha que não desvirtuou excessivamente o conjunto, o núcleo histórico da vila tem vindo a ser objecto de alguns projectos de valorização. A torre de menagem foi aproveitada para núcleo expositivo e algumas intervenções arqueológicas - em particular a que foi realizada na Praça da República - vieram pôr a descoberto importantes trechos da estrutura gótica, que nos permite, hoje, reconstituir, em traços gerais, o traçado original.
OUTROS LINKS:
1 comentário:
Prezado Manuel Santos,
Meu nome é Cesar Morelli, natural de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Estou profundamente interessado em saber mais detalhes técnicos sobre castelos e em especial sobre o castelo de São Jorge - Portugal. Todavia não consigo mais informações na Internet e não conheço nenhum especialista em castelos. Gostaria de saber se você é um especialista, e caso não seja, se poderias me fazer a gentileza de me indicar alguém, em especial daí de Portugal.
Te agradeço desde já a atenção que você me dispensar. Um grande abraço, Cesar.
Enviar um comentário