São ainda discutidas as origens do castelo de Cerveira. A informação mais antiga que actualmente se conhece aponta para o reinado de D. Sancho II, altura em que Pero Novais confirmou o foral de Elvas, na categoria de alcaide do castelo de Cerveira. A opinião mais consensual (leia-se, a mais repetida pelos diversos autores que se dedicaram a esta fortaleza), contudo, aponta para que a primitiva construção do castelo tenha ocorrido apenas no reinado de seu sucessor, D. Afonso III, reinado em que está documentada a obrigação, de um vasto conjunto de populações vizinhas, em concorrer para a construção e/ou repação das muralhas. Aqui se instalou a cabeça da Terra de Cerveira, menção com que é referido o território circundante na viragem para o século XIV, mas desses primeiros tempos da fortificação nada sabemos, nem mesmo se foi logo um castelo ou uma simples torre.
A fortaleza que hoje existe é o resultado da dinâmica construtiva verificada no reinado de D. Dinis. Este monarca, em 1317, tentou atrair para a localidade uma centena de habitantes, propósito que renovou quatro anos mais tarde, pela outorga de carta de foral ao burgo. Dava-se assim cumprimento ao "reforço de uma rede urbana" fortemente vinculada à autoridade régia, que contava já com exemplos anteriores no Alto Minho, como a fundação de Caminha, em finais do século XIII (ANDRADE, 2001, p.90).
A disposição geral da fortaleza confirma a datação dionisina do projecto. De planta oval - típica das construções fortificadas góticas dessa altura -, possui oito torres quadrangulares, cinco delas relacionadas com a muralha Sul, a mais vulnerável a ataques. Esta cronologia é ainda sublinhada pela presença das armas do monarca, a encimar um portal gótico e a anteceder o que resta de um matacães, uma estrutura que permitia o tiro vertical sobre os possíveis agressores. Urbanisticamente, o interior das muralhas era definido por duas portas, ligadas, entre si, pela Rua Direita: a Sul, virada para o terreiro da feira, a Porta da Vila (mais tarde de Nossa Senhora da Ajuda), passagem imponente, de impacto cenográfico e simbólica do vínculo régio da fortaleza; a Norte, um pequeno postigo, verdadeira "porta da traição" (ALMEIDA, 1987, p.159), conduzia às margens do rio.
Posteriormente, foram muitas as alterações por que passou o castelo. Ainda na Idade Média, reinando D. Fernando ou, já no século XV, tiveram lugar reparações pontuais. Bastante mais importantes foram as campanhas da época moderna. Nos anos de 1660 a 1665, no contexto das Guerras da Restauração, D. Diogo de Lima, 8º Visconde de Cerveira, patrocinou a construção de um sistema defensivo moderno, com fossos, amuralhamentos intermédios e baluartes salientes. A vila havia sido atacada por forças espanholas logo em 1643 e, ainda que a sua importância não fosse comparável à vizinha fortaleza de Valença, foi, sem dúvida, um ponto de apoio importante na defesa da linha do Minho. Integrada nas obras seiscentistas, destaca-se a Capela de Nossa Senhora da Ajuda, uma obra que coroa a entrada principal do recinto.
Todavia, também esta segunda grande campanha de arquitectura militar não chegou íntegra até hoje. No século XIX, verificou-se a destruição sistemática deste monumento. Em 1844, destruiu-se parcialmente a torre de menagem, processo a que se seguiu a corrupção da muralha Norte, com a supressão da Porta do Cais. Posteriormente, por carta de 22 de Março de 1875, o recinto amuralhado foi doado à Câmara Municipal, que encetou, então, uma revolução urbanística na localidade, cujo principal objectivo foi o de destruir a segunda linha de muralhas, em benefício da melhoria significativa dos eixos viários que conduziam à vila.
Parcialmente transformado em Pousada de D. Dinis, o antigo castelo de Vila Nova de Cerveira mantém parte do seu encanto medieval. Ainda é possível percorrer alguns troços de muralha e, na sua rua direita, subsiste um arco gótico que pertencia ao antigo Paço medieval dos Governadores.
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