Os melhoramentos de que a vila de Barcelos foi objecto nos finais da Idade Média fomentaram um estauto de verdadeira centralidade no entre-Douro-e-Minho. No trajecto Norte-Sul, Barcelos era ponto de passagem obrigatório e com a construção da ponte (na primeira metade do século XIV), mais essa centralidade se acentuou, canalizando para a vila importantes contigentes populacionais (em trânsito para outras paragens ou afluindo à sua concorrida feira) e muitos recursos económicos e comerciais.
Apesar deste favorável contexto, a construção das muralhas parece ter acontecido numa fase já relativamente tardia e não se podem dissociar da edificação do paço condal, iniciativa do Infante D. Afonso, filho de D. João I. Em 1406, o concelho do Porto reclamava ao rei, argumentando que o vedor da obra barcelense estava indevidamente a obrigar os habitantes de Azurara (então no termo portuense) a contribuir para os trabalhos de amuralhamento da vila, sintoma de que a empreitada corria a bom ritmo. De tal forma seria assim que ela estaria concluída pelos meados da centúria.
O sistema então construído foi brutalmente amputado nos séculos mais recentes, mas é ainda possível reconstituir, nos seus traços gerais, o perímetro que a cerca delimitada, graças a um desenho de Duarte D'Armas, executado no início do século XVI, e à própria fisionomia urbanística do centro histórico, que conservou notáveis vestígios da estrutura. Assim, o burgo apresentava uma muralha de perfil oval, ligeiramente reintrante na face Norte, que tinha na ponte o seu início e fim. Quatro torres quadrangulares protegiam outras tantas portas, ordenando simultaneamente os eixos viários internos às principais estradas do território.
A passagem mais importante era a do lado Sul, atravessando o rio pela ponte. Neste troço avultava a posição dominante do paço condal que, pela década de 80 do século XV, sob o impulso do conde D. Fernando, se ligou à ponte, através de uma torre de dois pisos, cujo andar inferior, aberto em três arcadas, permitia a passagem controlada sobre o tabuleiro. Do lado oposto, duas outras torres tutelavam outras importantes vias: a do Cimo da Vila, ou da Porta Nova, frente ao antigo Campo da Feira, situava-se a Nordeste, no final do caminho de Viana do Castelo e de Ponte de Lima, e sobre um amplo terreiro onde se realizava a feira de Barcelos; a Noroeste, a Porta do Vale controlava a passagem para o caminho de Esposende. Finalmente, uma quarta torre, de menores dimensões que as restantes, localizava-se a nascente da ponte, numa zona de fácil acesso ao rio, e protegia o Postigo do Pessegal, pequena passagem que ligava o interior do burgo à Fonte da Vila, caminho cuja protecção era ainda reforçada por uma barbacã, desenhada por Duarte d'Armas (ALMEIDA, 1990, p. 34). Existia ainda uma última porta, localizada a poente, designada por Postigo do Fundo da Vila que, como o própio nome indica, era a de menor importância.
De todo este complexo, restam alguns vestígios de muralhas e, principalmente, a Torre da Porta da Vila, estrutura que marca, ainda hoje, a paisagem desta secção urbana. De planta quadrangular e dotada de quatro andares (sendo a fachada meridional a única a denunciar esta organização interior, pela existência de uma porta de arco apontado no primeiro piso e janelas geminadas nos registos superiores, sempre abertas ao centro do alçado), é uma construção que revela bem o grau de monumentalidade que o sistema defensivo de Barcelos adquiriu no século XV.
Como praticamente todas as vilas muralhadas do país, o caminho para a contemporaneidade determinou a destruição de grande parte dos medievais sistemas de protecção. Se até ao final do século XVIII, se limitaram os estragos a aberturas de novas portas, a política posterior foi a do sistemático desmantelamento. De 1794 até hoje, não cessaram as destruições, fazendo com que seja muito pouco o que resta de tão importante cerca.
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