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sábado, 10 de janeiro de 2009

Castelo de Valhelhas (Ruínas) - Guarda

 

Santa Maria de Valhelhas tem um passado histórico de enorme importância, que bem justifica a honra com que os seus habitantes o vêem. Foi um dos grandes concelhos portugueses entre os séculos XII e XIV, um dos concelhos perfeitos do primeiro período da Nacionalidade. Possuía um termo vastíssimo, do qual vieram a ser herdeiros, em meados do século XIX, os actuais concelhos da Guarda (quatro freguesias), Covilhã (outras quatro) e Manteigas (uma freguesia). 

Escreve Pinho Leal sobre a localização da freguesia: “A vila está na margem esquerda do Zêzere, em sítio fundo, e quase ao nível do rio, entre altas ribanceiras, que pendem quase a prumo dos contrafortes da serra da Estrela sobre o rio; mas o povoado está em pequeno vale donde lhe provém o nome”. 

Do grande concelho que foi, pouco resta, actualmente, em Valhelhas. Uma povoação modesta, cuja população, a rondar os oitocentos habitantes, se dedica sobretudo à agricultura e à pequena indústria. Mas o facto de o turismo de habitação fazer parte integrante da economia da terra prova as suas potencialidades do presente, que poderão no futuro vir a fazer jus a um passado de tão elevada estatura. Mas o passado assume, nesta freguesia, contornos de enorme importância. Interessa-nos, pois, sobremaneira. O seu povoamento começou bem cedo, ainda antes da chegada dos romanos a Portugal. O castro de Valhelhas, situado a nascente da povoação, num outeiro que se levanta na confluência da ribeira de Famalicão com o rio Zêzere, forneceu-nos indicadores fundamentais sobre a forma como foi habitada inicialmente a freguesia. 

Toda a toponímia confirma a antiguidade da vida humana em Valhelhas. Castelo dos Mouros de Cima, na delimitação desta freguesia com a de Gonçalo, remete-nos para um passado mourisco. Valhelhas, o topónimo principal, é a aplicação de um étimo latino, “valelha”, ainda usado no período de formação da nossa língua. Por volta do século XII, então “valelhas”, significava vales pequenos. Nas redondezas, outros nomes apontam para um remoto povoamento. Sendão, na vizinha freguesia de Famalicão, terá sido uma “villa” de um possessor germânico de nome Cenda; Sarnadas, em Verdelhos, significava a inclinação dos terrenos, sendo um adjectivo ainda abundantemente utilizado no século XI. 

Segundo Martins Sarmento, que em 1881 estudou o castro de Valhelhas, no âmbito de uma expedição científica à serra da Estrela, este povoado seria originalmente lusitano. Assim terá sido, no início, mas é também certo que, posteriormente, se transformou numa fortificação de traçado e construção puramente romana, a julgar pelos vestígios arqueológicos subsistentes. 

Devido à sua situação topográfica, impedia a penetração até à bacia de Manteigas e o acesso à parte central da serra da Estrela. Levantada no cimo do outeiro, esta fortaleza era constituída por um grande torreão rectangular e por uma cerca de muralhas envolvendo toda a povoação. Pouco resta actualmente deste antigo castelo romano, a não ser uma réstea de muralhas, aproveitadas para murar o cemitério paroquial. 

A sua importância manteve-se incólume durante muito tempo ainda. Em 1187, segundo a tradição, D. Sancho I teria reedificado uma fortaleza entretanto praticamente destruída pelos mouros. A região devia estar nesta altura muito pouco povoada, e o foral que aquele monarca concedeu nesse ano a Valhelhas não era mais do que uma tentativa de incentivar a fixação das populações a um território vizinho do reino de Leão, já que, nessa altura, o Além-Côa estava em sua posse. 

Essas populações, segundo o texto do documento, eram essencialmente constituídas pelas categorias dos vilãos-herdadores: peões, cavaleiros, servos ou malados. Aos cavaleiros-vilãos de Valhelhas, é dado o privilégio de infanções, em julgamento e juramento; ao mesmo tempo, os peões eram equiparados a cavaleiros-vilãos: “ilos peones de Valelias.” 

O que a documentação não confirma é a reconstrução do castelo de Valhelhas. 

Este foral, concedido por D. Sancho I em 1188 a D. Gomes Ramires, Mestre da Ordem do Templo e aos seus frades, que daqui fizeram uma comenda e uma casa, onde alguns residiam. Quando a Ordem do Templo foi extinta, em 1311, passou a comenda de Valhelhas para a coroa, até 1319, data em que transitou para a Ordem de Cristo. O rei, como grão-mestre desta Ordem e da de S. Tiago, apresentava o prior pela mesa da consciência e ordens. 

O foral de D. Sancho I seria posteriormente confirmado por D. Afonso II, em Santarém, e renovado por D. Manuel I em 2 de Maio de 1514. 

Em 1680, foi fundado em Valhelhas um mosteiro de frades franciscanos, por D. Rodrigo de Castro, com um grupo de frades que vieram da Guarda. 

No século XVIII, o concelho tinha juiz ordinário, vereadores, procuradores do concelho, escrivães da câmara, escrivães do judicial e notas, juiz dos orfãos e seu escrivão, alcaide e ordenanças. 

Nos inícios do século XIX, durante as invasões francesas, o castelo acima referido, que ainda subsistia, teria travado a ofensiva gaulesa na Beira-Serra, tendo sido Manteigas uma das poucas terras que escapou aos flagelos das tropas de Napoleão. 

Em 1909, foi anexada a Valhelhas Vale da Amoreira. Extinto o concelho, ficou a freguesia. Como disse Pinho Leal, “a vila é de humilde aparência e revela ter decaído bastante da sua primitiva prosperidade”. Será mais ou menos isto - já o era no século passado - embora o futuro se aguarde com expectativa, dado o enorme potencial que sem dúvida a sua população revela.

Texto: CastelosdePortugal.com.sapo

“Tudo o que deste castelo resta é um muro, o cemitério local e as pedras que servem de alicerce às paredes de algumas casas da povoação hoje lá residente.”

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