Faria é um dos mais importantes e discutidos castelos do Entre-Douro-e-Minho. A sua primeira forma deve corresponder aos séculos IX-X, embora a primeira referência documental date apenas de de 1099, ano em que o comando da fortaleza estava entregue ao tenens Soeiro Mendes da Maia. Pelo apelido deste nobre, fácil é de perceber a importância do castelo no quadro da nobreza fundiária que, então, dominava a política portucalense, em pleno regime condal. Essa importância foi confirmada ao longo do século XII, por uma série de diplomas e pelo prestígio de alguns nobres que tiveram a fortificação a seu cargo, casos de Ermígio Riba Douro, Mem de Riba Vizela ou Garcia de Sousa.
Cabeça da poderosa Terra de Faria, alguns autores pretenderam ver neste castelo um dos míticos locais onde deflagrou a revolta dos condes portucalenses contra D. Teresa, que conduziu à Batalha de São Mamede (1128) e à subida ao trono de D. Afonso Henriques. Um pouco antes desse recontro, algumas fortalezas juraram fidelidade ao futuro rei, por oposição a D. Teresa e Fernão Peres de Trava. Entre elas, contou-se a de Neiva (a Norte do Douro) e a da Feira (a Sul daquele rio), dando à "revolução" um sentido verdadeiramente "nacional". A passagem de mãos destes castelos consta da Crónica galego-portuguesa de Espanha e de Portugal e, durante algum tempo, permaneceu a dúvida se o castelo da Feira mencionado não seria antes o de Faria. Após os estudos de MATTOSO, KRUS e ANDRADE, 1989, Feira tornou-se a opinião mais consensual, ainda que alguns argumentos de sentido contrário, invocados por A. de Almeida FERNANDES, 1991, nunca tenham sido devidamente refutados.
O mais célebre episódio da sua história foi, todavia, o que ocorreu em 1373. O facto chegou-nos por via de Fernão Lopes e por uma versão romanceada de Alexandre Herculano, e narra a recusa de Nuno Gonçalves de Faria, então alcaide do castelo, em entregar as chaves da fortaleza ao exército galego invasor. No século XV, com a subida ao trono da dinastia de Avis, o castelo entrou em declínio e não mais voltou a ter a importância dos tempos baixo-medievais.
É precisamente do século XIV o mais importante espólio resgatado, apesar de existirem outros materiais que podem recuar ao início da nacionalidade. Esporas de roldana, estibos, pomos de espadas, fivelas, fragmentos de malhas metálicas, pontas de virotão, etc., são alguns dos elementos que a arqueologia resgatou da arruinada fortaleza e que constituem um dos mais importantes núcleos nacionais de armamento medieval. Ainda do local procede um lote de moedas do reinado de D. Fernando e permanece a dúvida sobre a real origem do chamado "Túmulo de Faria", alvo de recente estudo de Carla Varela FERNANDES, 2001-2002, e que Carlos Alberto Ferreira de ALMEIDA, 1990, p.39, admite poder ter vindo do castelo.
Arquitectonicamente, a fortaleza encontra-se algo adulterada, quer pela erosão dos séculos, quer por algumas discutíveis opções do "Grupo dos Alcaides de Faria Pro-Franqueira", fundado em 1929 e sediado em Barcelos, que aqui efectuou escavações em 1930, 1932, 1936 e 1949, e que iniciou a reconstrução da torre de menagem. A sua intervenção no local permitiu, no entanto, identificar vestígios de um povoado fortificado da Idade do Ferro, visível no muralhado duplo de pedra solta e irregular, nas habitações de planta predominantemente circular, com o respectivo buraco de poste ao centro, bem como noutras estruturas anexadas de planta rectangular, possivelmente destinadas a guardar gado, a par de arruamentos estreitos lageados e fragmentos cerâmicos característicos desta cronologia proto-histórica, a confirmar, no fundo, o seu posicionamento estratégico, ao proporcionar um bom domínio sobre a paisagem envolvente. Tipologicamente, o castelo é românico, com torre de menagem isolada no centro do recinto muralhado, cuja cerca interior é a única que parece ser medieval.
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